Carlos Araujo

Apresentação

A Galeria Multiarte sente-se honrada em receber a exposição de pinturas e esculturas de Carlos Araujo, no momento em que o artista se prepara para dar início ao trabalho de ilustração da Bíblia, um velho sonho que agora será materializado através de grandes painéis, e, certamente, será de grande impacto para os inúmeros colecionadores e admiradores de sua obra.

Em sua exposição no Museu de Arte de São Paulo em 1987, coincidindo com o lançamento mundial do livro de autoria do renomado editor Claude Draeger, escreveu o professor Pietro Maria Bardi: “Araujo não pinta por pintar, pinta para refletir sobre a vivência humana, buscando um reencontro de gentes, superando as facilidades correntes, empenhado em penetrar sentimentos, referências concretas da intimidade…”.

Na mesma publicação, o crítico francês Pierre Restany diz em seu prefácio: “Os tons bistres pálidos (cor de ferrugem) e o azulado evocam as aquarelas clássicas do Renascimento pelo espírito romântico-crepuscular do autor. A expressão que peço emprestada a P.M. Bardi, traduz bem um dos aspectos formais da sua obra. O perfeito domínio da técnica é, ao mesmo tempo, fruto de um dom e do trabalho…”. A mostra, com uma montagem impecável, apresentava pinturas e esculturas com suas formas humanas bastante características de sua obra.

A coleção de pinturas especialmente produzida para a Multiarte, mostra as primeiras formas religiosas Madonas, Anjos, Maternidades, Cristo menino, enriquecida com esculturas realizadas entre 1987 e 1992 e três litografias. A Multiarte agradece a Carlos Araujo o privilégio de apresentar de forma inédita uma pequena mostra da evolução constante do seu trabalho, visando a sua obra maior, ou seja, a ilustração em grandes painéis e litografias para a edição completa da Bíblia Sagrada.

Max Perlingeiro

Pudesse eu intitular as telas novamente – gritaria – explicitando o caminho de retorno, do homem ao seu criador.

Fases germinativas de um aprimoramento técnico, quiçá espiritual, me permitiram, pela Graça Divina uma aproximação gradual em atingir o objetivo que sempre pressenti e intimidou-me.
Pela escassez de fé, e receando por minhas limitaçōes, posterguei. Agora, porém, inicio a tentativa de ilustrar a Bíblia Sagrada, reposicionando “minha” pintura como um meio e não um fim em si mesma.

Talentos, ofícios, habilidades físicas e intelectuais, ou qualquer que seja nosso Legado Divino, nos elegem receptáculos da Sua vontade, e nos responsabilizam em Lhe ser agradável.

óleo, linho, pigmentos, manipulados por quem retorna ao pó – o homem – têm o poder de transmitir A Palavra, e deixam de ser a matéria frágil, o vapor, o conto ligeiro, para transmutar-se num anúncio poderoso do Todo, do Uno, do Eterno.

Aventurei-me a representar Sua vontade, refugiando-me em painéis metafóricos. Displicente, sem ser portador de importante Bênção, a Consciência de Sua Grandeza : não a exerci, portanto, minimizei-a, usufruindo e alimentando o ego ávido de inúmeras “Glórias Mundi”.

Ilustrando em Paris o “Apocalipse de São João”, flutuava na imensa vacuidade da ilusão, quando iniciei, pela Misericórdia Divina, dolorosamente, meu despertar. No ápice de uma catarse redentora converti-me ao Cristianismo, alistando-me no “bom combate”, relatado por São Paulo. O que era meu mérito, transformou-se em descrédito. Fragmentou-se “velho homem”, explodindo-me na face. A promessa de Cristo cumpriu-se na Terra, tornando o fardo leve e o caminho suave.

Este testemunho é uma singela imitação, repetição de milhares de outros depoimentos mais profundos e conclusivos que ratificam aquilo que nos sinalizam e ensinam as Escrituras Sagradas – portas cravadas neste deserto árido e insólito, abrindo-se de quando em quando para vislumbrarmos por segundos o Universo Primal, e lá colocadas pelo Criador.

O paradoxo de ser tão próximo ou inacessível a nós, depende da escolha humana em clamar-Lhe com fé e humildade por uma transformação radical e efetiva, ou nos dobrarmos insistentemente às ilusões. Abandonemos os nossos “meus” e “eus”, aceitando finalmerte de coração e mente, que sem Ele nada podemos.

Ser moderno, em sua essência, uma questão puramente espiritual, a antítese do ego. O pensamento de origem humana atingindo os mais altos píncaros, treme e pulveriza-se em confronto coma infinita amplitude cósmica do “Eu Sou” Divino, proclamado a Moisés. A “Nova Era” nos acompanha há dois mil anos, anunciada por Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, o Messias. Procurar algo fora de Sua
Vontade, no vácuo, é estar fadado a correr eternamente atrás da própria sombra.

Carlos Araujo, abril de 1998

Catálogo virtual

Exposição realizada na Multiarte.