Jean Pierre Chabloz

Apresentação

MULTIARTE REUNE, EM FORTALEZA, OBRA DE JEAN PIERRE CHABLOZ EM MOSTRA E CATÁLOGO.

Um conjunto artístico Inédito e precioso estará exposto ao público a partir do dia 7 de maio na Multiarte em Fortaleza. A exposição Jean Pierre Chabloz (1910-1984): pinturas e desenhos, conta com 65 pinturas e desenhos, organizada em núcleos temáticos de paisagens, retratos, figuras, estudos de publicidade e estudos decorativos, abrangendo o período de 1930 a 1950, além de uma pequena coleção de obras de pintores cearenses amigos de Chabloz, entre eles Chico da Silva, Antônio Bandeira e Barrica. Durante a abertura da mostra será lançado o catálogo Jean Pierre Chabloz (1910-1984), com obras do artista e de seus amigos. A mostra ficará aberta ao público de 7 de maio a 27 de junho de 2003, de terça-feira a sábado, das 14 às 20 horas.

Fugindo da guerra na Europa, chegaram ao Brasil nos anos 1940 inúmeros artistas, sendo que a maioria foi residir no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, em dois endereços tidos como um marco para a arte brasileira. O mais importante deles é o Hotel Internacional, situado na Rua Almirante Alexandrino: era o local preferido pelos artistas estrangeiros, e lá fixaram residência Maria Helena Vieira da Silva e seu marido Arpad Szenes, além de criticos e intelectuais. Já pela Pensão Mauá, mais proletária, mas não menos charmosa, localizada na Rua Mauá 73, passaram, entre outros, o romeno Emeric Mareier, o japonês Tadashi Kaminagai e, já no final da década, o mineiro Inimá de Paula. Foi ali que também residiu Djanira, cujos primeiros ensinamentos artísticos foram dados por Marcier. Mais tarde vieram morar na Pensão Mauá, o poeta Manuel Bandeira e os pintores Milton Dacosta e Flávio Shiró Tanaka.

Para o Brasil velo também, motivado pela Segunda Guerra Mundial, o suíço Jean Pierre Chabloz, acompanhando a mulher brasileira ­Regina. Com a filha Ana Maria, vão residir em santa Teresa, na casa dos sogros, em frente à Pensão Mauá. Mais tarde, Chabloz montou seu ateliê na Rua Almirante Alexandrino. Neste ambiente festivo formado pelos artistas, o clima musical tomava conta: Chabloz, o pintor Henrique Boese, o escultor Rainer e o húngaro Aranjé, formaram um quarteto, que se apresentava em suas casas e nas dos amigos. Chabloz continuou sempre com o firme propósito de retornar a seu país.

Em 1943, convidado por um amigo suíço, fixou residência em Fortaleza. Permaneceu na capital cearense por dois anos, desempenhando atividades culturais e pedagógicas em prol das artes no Nordeste. Nas palavras de sua mulher Regina: “Chabloz adorou Fortaleza! Lá formou um grupo de arte, juntos pintavam paisagens ao ar livre.

Em 1944, formou a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), com Aldemir Martins (1922), Inimá de Paula (1918­1999), Antônio Bandeira (1922-1967), Mário Barata (1914-1983), Nilo de Brito Firmeza, o Estrigas (1919), Clidenor Capibaribe, o Barrica (1908-1993), Zenon Barreto (1918-2002), Raimundo Feitosa e outros artistas locais. O objetivo do grupo era Introduzir o Modernismo nas artes do Ceará.

Em 1945, Miécio Askanasy, escritor polonês, era dono de uma livraria na Rua Senador Dantas, no Rio de Janeiro, onde realizava exposições – a Galeria Askanasy. Lá realizou uma exposição reunindo trabalhos de Jean Plerre Chabloz, Antônio Bandeira, Inimá de Paula e Raimundo Feitosa. Nesta histórica exposição, o adido cultural da embaixada francesa, Raymond Warnier, e o Centro de Estudos Franceses no Rio adquiriram quadros expostos de Bandeira, Inlmá e Chabloz. Esta aquisição possibilitou a ida de Bandeira para a França, e o seu reconhecimento como um dos mais respeitados pintores abstratos brasileiros.

Chabloz passou um tempo na Europa, mas depois de viajar carregando volumosa bagagem, inclusive sua coleção de livros, telas e desenhos, tomado de grande saudade do Ceará, voltou para Fortaleza em 1947.

Foi Chabloz quem descobriu Francisco Domingos da Silva (Chico da Silva), pintor primitivo, oriundo do Alto Amazonas, que pintava com giz, carvão e pedaços de telha nas paredes externas das casas dos pescadores de Praia Formosa. Difundiu suas obras surrealistas no Brasil e no exterior, e na Europa; em 1952, escreveu sobre o artista o famoso artigo “Um índio brasileiro reinventa a pintura”‘, na renomada revista Cahiers d’ Art, de Paris. De volta a Fortaleza, em 1960, promoveu a elaboração de mais de quarenta obras de Chico da Silva que hoje compõem parte do acervo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, inaugurado em 1961.

Em 1964, recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadão de Fortaleza, por relevantes serviços prestados ao povo do estado do Ceará.

A Multiarte sente-se honrada em apresentar esta exposição, provavelmente a mais completa do artista. A realização desta exposição é fruto da confiança e da generosidade da família do artista, sobretudo de sua filha Ana Maria, – que herdou o talento musical de seu pai, é violinista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e da Orquestra Petrobrás Pró-Música, e uma justa homenagem a Jean Pierre Chabloz. Além do Ceará, são as artes do Brasil que devem multo a este suíço de coração brasileiro. Sua mulher Regina, em depoimento recente, comenta: “Era um peregrino viajando com um bastão pelo mundo, até encontrar um lugar para ficar – acredito que Fortaleza foi este lugar”.

Catálogo virtual

Exposição realizada na Multiarte.