Raimundo Cela | 2000

Apresentação

A Multiarte sente-se honrada em realizar mais uma importante exposição do artista Raimundo Cela (1890-1954) no ano em que se comemoram os 110 anos de seu nascimento. A colegão inédita que conseguimos reunir, resultado de uma busca incessante de obras cada vez mais raras, advém de coleções do Rio de Janeiro, de São Paulo, de familiares do artista em Manaus e de algumas ainda localizadas no Ceará.

Obras definitivas como: A venda do peixe, um verdadeiro estudo sociológico da sociedade brasileira à época. A presença do chefe da família, sua mulher em segundo plano, sua empregada no plano mais importante e toda uma festa de personagens ligados à atividade produtiva da pesca, com a delicadeza de mostrar ao fundo a silhueta do Corcovado, vista da praia denominada Canto do Rio, em Niterói, obra de

1947, período em que morou naquela cidade; Jangadeiro com leme, um olhar quase infantil do homem destemido, o verdadeiro herói nordestino. Sobre estes heróis, comenta o poeta Otacílio de Azevedo em texto especial para a Revista Contemporânea, em 1944: “É o humílimo Jangadeiro de encontro às intempéries da sorte e sobre um mar traiçoeiro e indomável. É o jangadeiro afoito e destemido, em face dos vendavais e fazendo parede aos maiores obstáculos, dentro apenas de uma minúscula casca de noz, a que chamamos jangada; Labirinteira do Ceará, uma tela extremamente expressiva, mostrando mais uma vez a habilidade manual do povo humilde do Ceará, produzindo suas riquezas artesanais, ao fundo 0 histórico Farol do Mucuripe; suas cenas de jangadas já bastante tradicionais e as figuras tão características de sua produção nos anos 20 remetam as pinturas a óleo. Sobre o artista e a sua obra cito novamente Otacílio de Azevedo: “Para dizermos algo sobre a beleza de seus quadros, não precisamos destacar este ou aquele, pois que em todos eles vibram a mesma harmonia de cores, pureza de desenho, espontaneidade e acabamento perfeito”.

A coleção selecionada de aquarelas : figuras, marinhas e paisagens completa o panorama desta exposição, e, cabe destacar mais um comentário do poeta Otacílio de Azevedo: “Cabeça de velho, em aquarela, é o seu melhor trabalho, a sua obra-prima, talvez. A doçura que transparece em todo o rosto oxidado do preto velho-pai João é humana e profundamente impressionante”. Suas pinturas sobre papel demonstram mais uma vez a extrema habilidade com a técnica do desenho e a impossibilidade de errar o que é impossível de corrigir.

A opinião de Francisco Acquarone em Mestres da Pintura no Brasil: “Raimundo Cela, como nenhum outro talvez, pode ser crismado como artista do povo. Sua arte não traz a preocupação de exibir virtuosismos perfunctórios pelo contrario, apresenta uma técnica larga e vigorosas de piceladas audaciosas e espatuladas  gordas, através dos quais o observador sente a alma dos pintores espanhóis, opulenta de cores e de exterioridades violentas”.

Finalmente, cabe ressaltar um agradecimento especial à família do deputado Francisco José Studart, recentemente falecido, pelo elevado espírito público, o que permitiu a realização desta mostra, cujo núcleo principal procede de sua coleção pessoal, e, fez-se a sua vontade, o retorno das suas pinturas para o Ceará; à família do artista, hoje reduzida a uma filha, uma nora e dois netos, todos morando em Manaus; ao Dr. José Newton Lopes de Freitas, o maior incentivador e patrono desta exposição; ao pintor Nilo Firmesa, o Estrigas, que deu-me um depoimento decisivo, a seus ensinamentos e publicações, cuja pesquisa é de dar inveja aos ditos especialistas. Ao lado de sua mulher, Nice, criou o mini-museu Firmesa, que, na minha opinião, é parada obrigatória de qualquer visitante ou pesquisador que queira saber um pouco da história artística do Ceará. Sinto profundamente que o progresso esteja prestes a acabar com um local inesquecível, onde tudo deveria ser respeitado como um conjunto. O terreno de areia clara e varrida, a casa, com o conforto simples, porém funcional, as árvores frutíferas, a sombra agradável, o clima invejável, a simpatia do casal inigualável. E ao Grupo Edson Queiroz, que sempre apoiou as minhas iniciativas, possibilitando aos visitantes um catálogo digno, fonte permanente de consulta a centena de estudantes que sempre visitam as nossas exposições.

No próximo ano, a Pinakotheke Cultural, em parceria com a Multiarte, planeja a realização em São Paulo e Rio de Janeiro de uma exposição retrospectiva do artista e a publicação de um livro à altura de sua importância para a arte brasileira.

Espaço expositivo

Catálogo virtual

Exposição realizada na Multiarte.