Tomie Ohtake | 2011

Apresentação

É com grande entusiasmo que a Multiarte apresenta esta importante exposição da artista Tomie Ohtake em Fortaleza em cooperação com o Instituto Tomie Ohtake nosso parceiro de longa data, dirigido com grande competência por seu filho Ricardo Ohtake.
Tomie Ohtake faz parte de uma geração de artistas comprometida exclusivamente com o seu trabalho.Veio para o Brasil em 1936, radicou-se em São Paulo, criou dois filhos, naturalizou-se brasileira e pinta sua primeira tela aos 39 anos de idade. Começou figurativa e tornou-se abstrata. Fez parte do Grupo Seibe,(Seibikai), grupo de artistas plásticos de São Paulo, que reuniu artistas japoneses interessados em criar um espaço de discussão que promovesse o aprimoramento técnico e a divulgação de suas obras criado em 1936. O Grupo realizou a sua primeira e única exposição dessa fase no Clube Japonês em 1938. A entrada do Brasil na II Guerra Mundial limitou as atividades da colônia japonesa do Brasil provocando a dispersão do Grupo. Mais tarde reiniciam as suas atividades, criando um ateliê coletivo e o ingresso de novos artistas entre eles: Tomie, ManabuMabe, Flávio Shiró, Fukushima entre outros.

Consagrada no Brasil e no exterior é considerada a grande dama da arte brasileira. Suas obras figuram nas maiores coleções publicas e privadas. A coleção apresentada é constituída de raras pinturas das décadas de 1960 ate 201X,entre elas cabe destacar uma das obras da série Pinturas Cegas.

No fi nal da década de 1950, o critico Mario Pedrosa retorna do Japão depois de uma pesquisa em história da arte para formar um
diálogo com a produção ocidental e pede aos artistas brasileiros que dessem atenção à cultura japonesa: a caligrafi a, a pintura sumi,
a arquitetura, o espírito Zen, entre outros aspectos.Duas sugestões de Mario Pedrosa foram seguidas por Tomie: ler o filósofo Merleau Ponty, a cuja fenomenologia a arte brasileira muito deve, e pintar de olhos vendados.“Tomie alternava, na elaboração de cada quadro, períodos de cegueira e de visão.As vendas nos olhos durante o processo da pintura tinham o sentido de realizar uma ação pictórica no limite da percepção. O pincel não buscava demarcar território ou produzir qualquer figuração.Tratava-se do puro fenômeno da passagem do tempo no processo Zen, através do ato de pintar”. A importância desta serie foi ressaltada através de uma exposição
realizada no Instituto Tomie Ohtake em 2011 como comenta o critico Paulo Herkenho, curador e responsável pelo resgate destas obras: “Houve uma época em que Tomie Ohtake resolveu vendar seus olhos para criar obras que ela mesma chama de “pinturas cegas”. Era o fim dos anos 1950, começo dos 60, quando a artista se lançou a essa experimentação, num “momento capital de Tomie na vanguarda”, – é que a artista pintava “sem olhar para o real” e inominando suas imagens. Por muito tempo, os quadros dessa fase fi caram como que guardados, vez ou outra figurando em exposições, mas, isolados. Somente agora, aos 97 anos,Tomie apresenta pela primeira vez um conjunto reunido de cerca de 32 de suas obras dessa série. As esculturas selecionadas são de uma serie desenvolvidas pela artista entre 2006 e 2009 construídas em tubo de aço carbono pintadas de branco que saem das paredes e do teto e de acordo com a incidência da luz, imprimem desenhos de sombras.

E uma extraordinária série de gravuras em metal feitas em 2008. A gravura começa na vida da artista como curiosidade. Inicia com a
serigrafia, a seguir a litografia e finalmente nos anos 80 a gravura em metal. Sua consagração foi receber o convite para apresentar a sua obra gráfica nas Bienais de Veneza em 1972 e Tokio em 1974. Pensar em Tomie e sair totalmente da realidade. Uma artista
completa, fiel as suas origens, disciplinada, que trabalha diariamente e que ainda aceita grandes desafios. Atualmente cria um painel
monumental para uma Universidade do ABC paulista e uma escultura de grandes dimensões para uma instituição financeira em São Paulo. Tive o privilegio de participar das comemorações dos seus 97 anos e ver uma exposição de obras recentes e de grandes formatos. Nesta noite sentada numa cadeira e recebendo seus inúmeros amigos ousei perguntar: Onde você arranja tanta energia? E ela me respondeu:“Fui vero Paul McCartney.Você foi?” Não tive resposta. No próximo dia 21 de novembro Tomie completará 98 anos de idade e a Galeria Multiarte se antecipa as comemorações.

Parabéns Tomie e obrigado pela sua grande generosidade.

Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, no Japão, dia 21 de novembro de 1913, onde fez seus estudos. Em 1936 chega ao Brasil para visitar um de seus cinco irmãos. Impedida de voltar devido ao início da Guerra do Pacífi co acaba fi cando no País. Casa-se, cria os dois filhos e com quase 40 anos começa a pintar incentivada pelo artista japonês Keiya Sugano. A carreira atinge plena efervescência a partir dos seus 50 anos, quando realiza mostras individuais e conquista prêmios na maioria dos salões brasileiros. Em sua extensa trajetória participou de 20 Bienais Internacionais (seis de São Paulo, uma das quais recebeu o Prêmio Itamaraty), contabiliza em seu currículo mais de 90 exposições individuais e quase quatro centenas de coletivas, entre o Brasil e o exterior, além de 28 prêmios.

A obra de Tomie destaca-se tanto na pintura e na gravura, quanto na escultura. Marcam ainda a sua produção as mais de 30 obras públicas desenhadas na paisagem de várias cidades brasileiras, feito raro para um artista no Brasil. Recentemente, entre 2009 e 2010,
suas esculturas alcançaram também os jardins do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio e a cidade de Okinawa, no Japão. Sempre disposta a novos desafi os,Tomie levou a sua arte para outras frentes. Criou dois cenários para a ópera Madame Butterfly, o primeiro em 1983, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e o segundo em 2008, no Teatro Municipal de São Paulo. Costuma também ser convidada a criar peças para prêmios e comemorações, como por ocasião do centenário da imigração japonesa, em 2008, quando concebeu a monumental escultura em Santos e a do Aeroporto Internacional de Guarulhos em São Paulo. Peças de menores dimensões, como o troféu da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, além de medalhas e objetos para laureados de muitos eventos fazem também parte de sua diversifi cada produção. Sobre o seu trabalho foram publicados dois livros, vinte catálogos e oito fi lmes/vídeos, um deles com a assinatura do cineasta Walter Salles. Em São Paulo, dá nome a um vibrante centro cultural, o Instituto Tomie Ohtake.A artista continua realizando pinturas, gravuras, esculturas e obras públicas. Neste ano, em comemoração ao seu aniversário de 97 anos, o Instituto com seu nome exibiu as suas pinturas recentes, cerca de 25 obras em grandes dimensões realizadas em 2010.

Seu reconhecimento público tornou-a uma espécie de embaixatriz das artes e da cultura no Brasil.Assim Tomie é sempre convocada a receber grandes personalidades internacionais, como a Rainha Elizabeth, Imperador, Imperatriz e Príncipe do Japão, dançarino Kazuo Ohno, coreógrafa Pina Bausch, artista Yoko Ono, escritor José Saramago, entre muitos outros.

Catálogo virtual

Exposição realizada na Multiarte.