Carlos Vergara

Apresentação

Nesta exposição Carlos Vergara a Multiarte apresenta obras seleciona­das do artista que permeiam mais de cinco décadas de sua produção – dos anos 1960 aos dias atuais.

Vergara faz parte de uma geração de artistas cuja trajetória inicia nos anos 1960, quando decidem opor-se à ditadura imposta ao país. Estes artistas passam a incorporar, nos seus trabalhos, uma linguagem mar­cante de resistência.

A exposição Opinião 65, apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio Janeiro, em agosto de 1965, idealizada por Ceres Franco e Jean Boghici, foi um marco na história da arte contemporânea brasileira, a ressaltar, a postura crítica diante da nova realidade que se impunha a nossa sociedade. É neste cenário que se forma um movimento deno­minado Nova Figuração Brasileira, integrado por Antonio Dias, Carlos Vergara, Roberto Magalhães e Rubens Gerchman. Sobre este momento, comentou Rubens Gerchman nas nossas inúmeras conversas em seu ateliê de São Paulo, na preparação de uma exposição no Rio de Janei­ro, a qual, infelizmente, o artista não viu realizada: Não éramos pop nem hedonistas, e sim, um bloco de resistência.

A exposição será revivida este ano, numa grande mostra apresentada em setembro, no Rio de Janeiro, na Pinakotheke Cultural – Opinião 65 – 50 anos depois. A intenção, decorridos exatos cinquenta anos é re­ver a produção destes jovens artistas em mostras individuais, ao longo dos anos 2015 e 2016. Estamos iniciando com Carlos Vergara; Antonio Dias, em outubro, seguido de Roberto Magalhães e, finalmente, Rubens Gerchman – a segunda exposição deste artista na Multiarte.

A exposição Carlos Vergara tem início com uma serigrafia produzida em 1967, obra de forte linguagem gráfica da série 5 Problemas/5 estampas, o melhor exemplo da sua produção neste período.

A década de 1970, é representada por quatro séries, como seguem des­critas:

SÉRIE ENVELOPES, 1970

A partir dos anos 1970 seu trabalho passa por grandes transformações, o artista incorpora a fotografia como elemento essencial na sua pro­dução. A série Envelopes mostra a mutação do seu autorretrato repre­sentado por doze imagens. É o início das suas pesquisas dentro da fo­tografia.

O carnaval do Rio de Janeiro desperta enorme curiosidade e forte influ­ência sobre intelectuais e artistas. O antropólogo Roberto DaMatta publi­ca o clássico Carnavais, malandros e heróis, Editora Rocco , 1979 e Uni­verso do Carnaval – Imagens e Reflexões, Edições Pinakotheke, 1981, ilustrado pelo fotógrafo João Poppe com imagens do carnaval de 1981.

SÉRIE CACIQUE DE RAMOS, DÉCADA DE 1970

Vergara se dedicou a fotografias e pinturas do bloco de carnaval cario­ca: Cacique de Ramos, um dos mais conhecidos e tradicionais blocos de carnaval do Rio de Janeiro, criado no bairro de Ramos, na Zona Nor­te. Estas imagens foram expostas em 1980, na 40Bienal de Veneza, com o título Carnaval.

Sobre o seu interesse por estes registros o artista comenta: O carnaval de rua era uma coisa importante no sentido de que o establishment dei­xa o Centro da cidade, sai das ruas do Centro, que é tomada por mani­festantes populares de toda ordem, até manifestações políticas. O mor­ro desce, o subúrbio vai para o Centro, de caminhão, de ônibus, de trem e você tem, então, manifestações populares irônicas e críticas. Uma das fotos desta série, por exemplo, são os negros que tem a palavra Poder escrita no peito, na pele. Pra mim, pessoalmente acontece a descoberta do Cacique de Ramos. Sete mil pessoas que escolhem se tornar iguais, num evento que incentiva a exacerbação da individualidade. Eles esco­lhem se tornar um coletivo. Dos sete mil eu sou um. Todos são caciques. Mais do que uma festa, o carnaval é um ritual popular.

A aproximação com as escolas de samba, de Hélio Oiticica com a Mangueira e a de Carlos Vergara com o Cacique de Ramos resultou no comentário do Hélio: Vergara no Cacique: da experiência de sair com o bloco às fotos em que a câmera é olho-câmera e não olho-homem: Vergara não fotografa o que o olho vê, mas usa a câmera como quem usasse mão boba: o foco é feito pela distância da câmera ao objeto e não pelo olho do fotógrafo: ela samba e mexe com as passistas: ela olha por baixo, debaixo.

 

SÉRIE MÁSCARAS, DÉCADA DE 1970

Ainda na temática carnaval, a série Máscaras de 1972. Máscaras de pa­pel recortado, pintura e purpurina.

SÉRIE ARROZ E FEIJÃO, DÉCADA DE 1970

Em 1972 também produz uma série de trabalhos feitos com arroz e fei­jão. E ainda, o curta-metragem FOME, uma crônica da brotação de fei­jões, da palavra fome escrita com as sementes, com a duração de 12 mi­nutos. Segundo a ficha técnica do filme, foi o único Super-8 mm que re­cebeu montagem final e talvez, o único que tenha características de tra­balho em cinema. Este filme foi exibido em mostra realizada no Centro In­ternazionale di Brera, em Milão, em 1980; na Bienal de São Paulo, em 1981 e posteriormente, no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Obras mais recentes, lenticulares de 2008 e pinturas – monotipias de 2015 completam a exposição.

 

LENTICULARES

Em 2008 produz uma série de imagens com o recurso 3D lenticular: É um cruzamento e um truncamento da imagem, que provocam no especta­dor um novo esforço de olhar. O lenticular tem essa coisa do 3D virtual, que eu acho kitsch por um lado, mas também legal pra caramba, porque tem aquela coisa divertida, esse falso relevo. Cada imagem tem quatro fotos cruzadas que provocam o olhar.

PINTURAS – MONOTIPIAS, 2015

Sobre a técnica da pintura com base na monotipia, o artista comenta: A grande coisa da monotipia é que ela não é fotografia como se pode pen­sar. Trata-se de um registro em escala 1:1 de um determinado lugar. É uma espécie de eu estive lá, é o tamanho de lá.

Como atividade complementar e didática, serão exibidos filmes e docu­mentários sobre o artista.

A Multiarte sente-se privilegiada neste momento em que apresenta obras que atravessam todo o percurso de Carlos Vergara, artista impar no cená­rio da arte brasileira, e destaca as suas palavras aos 74 anos: O olhar é o menos poético dos nossos predicados. Desde pequenos, somos criados para usar o olho pragmaticamente, para não tropeçar, reconhecer as pes­soas, perceber o perigo… A capacidade poética do olhar vem de um esfor­ço intelectual. A arte creio eu ajuda a treinar o olhar a ser poético.

“Para quem começou nos anos 1960 fazendo joias – um artesão com desejos mais ambiciosos: o desejo de fazer arte com o pensamento e a pretensão de interferir no mundo –, muita coisa aconteceu. O trabalho tomou várias direções, mas não contraditórias. O trabalho de arte é fru­to do pensamento com a ajuda do trabalho artesanal. Olhando para trás, agora, vejo que sempre estive fiel a um rumo, a um desejo, alternando olhar para dentro e olhar para fora, e vendo minha produção com procedimentos e caras tão diferen­tes, mas onde percebo uma estrutura interna que não obriga um trabalho a pare­cer com outro. Eu não sou um, sou vários. Os trabalhos não poderiam ser iguais pois, às vezes, são feitos para acender o cérebro e às vezes, para acalmar o coração.”
Carlos Vergara

Espaço expositivo

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