A Galeria Multiarte apresenta a exposição “Jaildo Marinho – Origens”, a partir do próximo dia 7 de março, com curadoria de Max Perlingeiro, que reúne 24 obras, entre instalações, esculturas e pinturas do artista pernambucano nascido em 1970 e radicado há 24 anos em Paris. A exposição será acompanhada de um catálogo bilíngue – português-francês – com textos do galerista e curador da mostra, Max Perlingeiro, editado pela Pinakotheke Cultural.

A exposição revela o resgate, de forma poética, do artista em relação às suas origens nordestinas. O trabalho manual das rendeiras e labirinteiras – tema central cearense, que foi abordado nos anos 1930-1940 por Raimundo Cela – estão presentes nesta mostra de Jaildo Marinho. Duas grandes instalações em mármore e madeira representam os bilros, instrumentos de trabalho destas artistas anônimas. Complementam a exposição esculturas e pinturas com a temática “vazio e equilíbrio”.

Em suas esculturas, Jaildo Marinho utiliza mármore de Carrara com pintura em tinta acrílica, enquanto em suas pinturas usa madeira e tinta acrílica. Max Perlingeiro explica que, na infância, o pernambucano Jaildo Marinho descobriu que o mundo não era feito apenas de espessuras; nele estava o sulco, a fenda, a abertura, o rasgão. A terra se abre à passagem das chuvas. As proas dos navios abrem fendas nas águas. “Para Jaildo, o vazio existe como uma imposição do espaço. O que não está também está entre nós. O inexistente e o inabitável fazem parte da razão e da contabilidade do mundo”, explica Max.

Esses sulcos abertos na paisagem foram uma das obsessões de Rimbaud. “À direita a aurora de verão acorda as folhas e os vapores e os rumores deste recanto do parque, e os declives da esquerda abrigam em sua sombra violeta os mil rápidos sulcos da estrada úmida”, observa o poeta em “Sulcos”. E, no poema “Marinha”, alude “aos sulcos imensos das vazantes”.

Max Perlingeiro observa ainda que em “Origens” Jaildo Marinho registra, em sua arte deslumbrantemente exata, esse lugar da passagem entre o vazio e a visibilidade do mundo. “Esta sua exposição é um rimbaudiano desfile de coisas mágicas”, conclui o curador.

Apresentação


A MULTIARTE completou, em novembro de 2017, trinta anos de existência, ininterrupta, na cidade de Fortaleza. Decidimos iniciar as comemorações desta bela efeméride com a representação oral de grandes personalidades: críticos, historiadores e educadores. Dessa forma, vieram ao Ceará ao longo do ano, nossos amigos Lilian Schwartz, Aracy Amaral e Paulo Portela Filho.

Agora, em 2018, retomamos nossa trajetória expositiva. Iniciamos com a exposição de esculturas de Jaildo Marinho, artista com forte presença em Fortaleza desde 2005, quando foi responsável pelo intercâmbio com os artistas MADI e liderou uma grande doação de obras para a cidade de Sobral. Participou de inúmeras exposições coletivas de grande relevância, e hoje, está presente em expressivas coleções públicas e privadas.

Planejamos abrir em junho a exposição O ambiente que nos cerca com presença dos Irmãos Campana e, no segundo semestre, faremos uma homenagem ao centenário do poeta e escritor cearense Gerardo de Mello Mourão, completado em 2017, em diálogo com Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, Tunga, seu filho, um grande amigo que nos deixou em 2016.

A partir da exposição Cristalização, realizada em 2017, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Jaildo Marinho passa a elaborar suas mostras centradas em um tema único, decorrente de suas pesquisas e questionamentos. Dessa vez, comparava a finitude da vida humana às inúmeras possibilidades do mundo mineral. No texto de apresentação do catálogo, especialmente editado para a mostra, o crítico e historiador francês Jacques Leenhardt, comenta:

“A exposição do MAM Rio sobre a obra de Jaildo Marinho está organizada em torno de uma instalação central – Cristalização (2017). Em um ambiente impregnado pelas cores da ametista, essa peça é construída em redor de um vácuo. Em geologia, este consiste na condição para que o tempo infinito dos processos minerais venha a formar cristais que, ao se desenvolverem livremente, acabam constituindo um geodo. Essa estrutura central é, mais amplamente, o emblema da exposição inteira, a qual funciona em seu conjunto à maneira de uma estrutura cristalina, reproduzindo na escala do museu o longo processo através do qual se elabora o mundo mineral, mediante reduplicações e simetria. Em sua forma perfeita, o processo de cristalização produz cristais de rocha: é essa fabricação silenciosa e milenar que está configurada em Cristalização. O tempo infinitamente profundo da geologia é precisamente o inverso daquele que dá o ritmo de nossa existência. A temporalidade dos minerais, comparada à nossa, parece infinita. Seu fluxo bastante lento – às vezes, pontuado por um episódio eruptivo – está submetido a uma lógica linear que contrasta com o perpétuo recomeço vivenciado pelas plantas, pelos animais e, por conseguinte, também pelos seres humanos.”

Esta exposição mostra que em busca de suas origens nordestinas, o artista resgata, de forma poética, as suas origens. O trabalho manual das rendeiras e labirinteiras, tema central cearense, foi abordado nos anos 1930-1940 por Raimundo Cela. Duas grandes instalações em mármore e madeira representam os bilros, instrumentos de trabalho destas artistas anônimas. Complementam a exposição esculturas e pinturas com a temática “vazio e equilíbrio”.

Max Perlingeiro

Jaildo Marinho

Jaildo Marinho

Originário de Santa Maria da Boa Vista, pequena cidade no interior de Pernambuco, iniciou a formação em Recife e aperfeiçoou a técnica em Paris, onde vive e trabalha desde 1993. Sobre a formação pernambucana e a constante pesquisa sobre o “vazio”, que norteia sua produção artística, o poeta Ledo Ivo escreve na apresentação da sua exposição na Academia Brasileira de Letras, em 2008:

Em sua infância o pernambucano Jaildo Marinho descobriu que o mundo não é feito apenas de espessuras; nele está o sulco, a fenda, a abertura, o rasgão. A terra se abre à passagem das chuvas. As proas dos navios fendem as águas. O vazio existe como uma imposição do espaço. O que não está também está entre nós. O inexistente e o inabitável fazem parte da razão e da contabilidade do mundo visível. Esses sulcos abertos na paisagem foram uma das obsessões de Rimbaud. “À direita a aurora de verão acorda as folhas e os vapores e os rumores deste recanto do parque, e os declives da esquerda abrigam em sua sombra violeta os mil rápidos sulcos da estrada úmida”, observa em “Sulcos”. E, no poema “Marinha”, alude “aos sulcos imensos das vazantes”. Jaildo Marinho registra, em sua arte deslumbrantemente exata, esse lugar da passagem entre o vazio e a visibilidade do mundo. Esta sua exposição é um rimbaudiano desfile de coisas mágicas.

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